segunda-feira, agosto 06, 2007

Contos do Zumaia

















Foi sim… O fim.
António Zumaia

Seus olhos espraiavam-se pela maravilha da Costa Norte, assim chamada por ficar exactamente ao Norte de Sines; A extensão de areia estendia-se a perder de vista, ladeada por uma floresta de Pinheiros que o emoldurava de forma muito bela. A seus pés o mar, aquele que encantara Vasco da Gama, batia furioso nos rochedos deixando resquícios de água e espuma, como a compensar da sua brutalidade.

Geraldo amava sentar-se ali naquele recanto, a vida agitava-se à sua volta deixando-o numa doce calmia, estático; Apenas seu velho coração batia ritmado e seus olhos vasculhavam o horizonte como que a perguntar a todo aquele movimento da natureza, porque não podia colaborar. O mar normalmente dizia-lhe:- Calma amigo! Tu já viveste muito, repousa agora.

Não era justo! O mar já vivera muito mais que ele e continuava jovem e buliçoso.

Olhava as ondas repetitivas para ver qual delas seria a maior e mais bela, sempre fora um sonhador, porque neste fenómeno lunar restava-lhe a esperança de um dia numa delas, vir o amor.

Era uma secreta esperança que se arrastava há muitos anos na sua mente, a bela Mariza, que um dia desaparecera da sua vida de modo abrupto e sem explicação, haveria de lhe aparecer. Não podia deixar esta vida sem que aqueles olhos meigos e serenos lhe fizessem novas promessas, que nunca foram cumpridas e só Deus sabia o porquê.

Caminhou para casa onde certamente a família o esperava para o almoço. Estava cansado, a subida das escadinhas que davam acesso a parte alta da cidade, era um dos exercícios que sempre fazia, mas o calor que se fazia sentir, dificultava-lhe a caminhada; No entanto ao chegar ao cimo desfrutava de um belíssimo panorama, a Baia de Sines, com sua praia de areias douradas e muito brancas. Caminhou pelas ruelas até sua residência e almoçou com a família, acabados de chegar também eles, mas da praia.

Foi ter com seus amigos ao jardim, como de costume ouviu as belas histórias daqueles velhos lobos-do-mar; As suas fantasias misturadas com algumas realidades faziam romances de belo efeito. Era um entusiasta desses belos contos, os velhos do jardim sabiam nele um ouvinte atento e entusiasta e cada um pretendia fantasiar da melhor forma, para lhe agradar.

Os raios solares abrandaram na sua inclemência, depois de uma cerveja fresquinha bebida num café perto do Castelo de Sines, onde nesta altura se realizava um belíssimo Festival de Música. Caminhou lentamente pelas ruelas, passou à casa onde nasceu Vasco da Gama e continuou até à casa de quatro andares e todos rés-do-chão, porque simplesmente a estrada à volta dela subia até ao último piso, era uma das curiosidades de Sines, que todos os marinheiros sabiam.

Desceu para a avenida que ladeava a praia e caminhou até à praia do Norte.

Havia aí um restaurante que servia uma salada de Búzio que era algo de muito bom e famosa, Geraldo aproveitou para beber mais uma cerveja bem fresca porque o calor ainda apertava.

Ficou ali quase até ao por do sol maravilhado com esse fenómeno da natureza, tão belo naquele local. Tentou ver o raio verde, que era o ultimo reflexo dos raios solares, em vão; Dizia a lenda que ele prolongava a vida de quem o via, ele não o viu.

Ao sair do Restaurante viu um bólide vermelho, que lhe parecia um Ferrari a descrever uma curva apertada e paralisar bem na frente dele.
No seu interior uma farta cabeleira loira e uns olhos conhecidos, abriu-lhe a porta do bólide e convidou-o a entrar.

- Não te lembras de mim Geraldo?
- Mariza!
- Entra e beija-me.

Ele entrou e beijou… Doido de alegria seu pobre coração rebentava de felicidade.

- Não sou Mariza… Sou a MORTE!

Sines – Portugal
31 de Julho de 2007

Sem comentários: